Entrevista com diretora Ivone Aparecida Vieira da Silva
Dia 30 de agosto deste ano comemoramos mais um aniversário da nossa instituição, porém este ano nos marcou de maneira muito em especial, afinal, completamos 60 anos desde quando Vó Cida iniciava a bela trajetória da nossa instituição! O que nos leva a um momento de reflexão da nossa história, conquistas, desafios e mudanças ao longo destes anos.
Conversamos com a atual diretora Ivone Aparecida Vieira da Silva, que nos contou um pouco sobre esse o legado e as perspectivas do Lar da Caridade para o futuro.
Porque essa data é importante para a Instituição?
Ivone: A data é importante, pois representa o inicio das atividades da instituição. Nos faz recordar de D. Aparecida como um exemplo de abnegação como serva de Jesus. Nesta data, nos fortalecemos ainda mais para dar continuidade ao "Lar da Caridade". É o nosso marco histórico.
A Vó Cida é reconhecida atualmente por toda sua obra e o legado deixado pela instituição, mas quais foram os desafios que ela sofreu na época?
Ivone: Os desafios foram muitos... o próprio inicio já foi um desafio. Ela trabalhava na Santa Casa e ao saber que "seus" doentes tiveram alta, estavam sem recursos para voltar para suas casas (eram de outras cidades) e com as condições de saúde ainda precária... lá vão eles buscar apoio com as autoridades municipais da época. E não tendo sucesso em sua empreitada de conseguir que os doentes permanecem internados até conseguirem os recursos para o retorno para suas famílias, resolve levar os doze doentes para sua casa. Creio ter sido este um dos maiores desafios de sua vida, pois um dos filhos pediu que decidisse entre a família e os doentes e sem hesitar, ela coloca "eles têm Deus e eu por eles, vocês estão crescidos e vão se virar". Outro desafio, com certeza, foram os sete dias de prisão, quando estava em São Paulo captando recursos para a manutenção da obra, ser acusada de ladra, sair daquela situação e dar continuidade ao trabalho. Ela era tão simples, nunca vi minha avó buscar por coisas para si, só me recordo de sua luta por manter a obra. Sempre dizia: ‘’a obra é de Deus, apenas cuido’’. Me dizia sempre que precisava de pouca coisa: três trocas de roupas (um para sair, uma para ficar em casa e uma reserva) e dois calçados (uma chinela e um sapato para sair), a única joia que a vi usar em todos os anos em que convivemos foi a sua aliança de casamento, nada além disso.
Nesse período a Instituição se reinventou e priorizou alguns de seus projetos sociais? Porque ocorreu essa mudança e qual a missão prioritária da instituição?
Ivone: As mudanças ocorrem de conformidade com as legislações vigentes. O Lar da Caridade é uma instituição filantrópica de assistência social, desenvolvíamos algumas atividades nas áreas de saúde e educação. Por força de lei e para nos mantermos em funcionamento tivemos que nos adequar, dentro da Política de Assistência Social, optamos por priorizar os projetos sociais com famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Atendendo ao que determina o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) desenvolvemos serviços de proteção social básica, ou seja, nossos projetos têm por objetivo a proteção e atendimento integral à família, com vista a convivência e fortalecimento de vínculos, para evitarmos que algum de seus membros necessite de uma proteção social de alta complexidade como o acolhimento institucional, por exemplo.
São 6 décadas de projetos sociais. Como a instituição enxerga a evolução dos projetos sociais no Brasil e quais são os próximos desafios?
Ivone: Refletir sobre a evolução dos projetos sociais no Brasil requer pensar que o nosso país é marcado por um capitalismo concentrador de renda que faz com que a questão da desigualdade econômica e social venha alcançar índices elevados de pobreza e desajuste de sobrevivência. Assim, os desafios são muitos, pois somente com uma mudança estrutural é que alcançaríamos uma melhoria na vida da grande massa populacional brasileira.
E para as instituições de Terceiro Setor - como o Lar da Caridade - o desafio maior é a nossa sobrevivência, num cenário tão adverso e em constante mudança. A manutenção financeira dos projetos é o nosso maior desafio hoje.
Como você vê o futuro do Lar?
Ivone: Pelos trabalhos em andamento acredito que o Lar se manterá em constante atualização, como uma instituição que prima pelo cuidado com o outro.
Se a Vó Cida estivesse viva ainda hoje o que acredita que ela diria sobre o atual momento da instituição e do trabalho assistencialista no Brasil?
Ivone: Difícil responder, Aparecida era uma mulher para além de seu tempo, mas com toda a certeza continuaria lutando para a manutenção dos projetos desenvolvidos atualmente. Acreditando no país, ela era apaixonada pelo Brasil.